Livro: Informações Científicas para o Leigo
Editor Científico: Flávio Augusto Marsiaj Oliveira
Coleção Saúde Bucal, Educação e Prevenção
Editora Conceito 2005
Capítulo 32 – Eliane Gulko
Odontologia Estética na Clínica
“A odontologia estética nada mais é do que uma odontologia bem feita, que une função com beleza.”
Quando uma pessoa, descontente com seus dentes, resolve procurar ajuda profissional, ela possui expectativas específicas. Cabe ao profissional ouvi-la, entender suas necessidades e ansiedades e proporcionar a este paciente o conhecimento das várias técnicas e possibilidades existentes que podem ser utilizadas. Possuímos um arsenal delas, tendo inclusive sempre mais de uma opção para cada caso.
A odontologia estética nada mais é do que uma odontologia bem feita, que une função com beleza.
Com o advento de novos materiais e novas técnicas, conseguimos hoje substituir trabalhos que copiam a anatomia e a cor dos dentes.
Antigamente, o amálgama e o ouro eram os materiais de primeira escolha para restaurar dentes posteriores.
Eles hoje foram substituídos por resinas, porcelanas puras e atualmente também resinas indiretas, todas elas utilizadas tanto em dentes anteriores, quanto em posteriores.
O QUE SÃO ESTES TRABALHOS?
São todos RESTAURAÇÕES. Alguns feitos na boca durante uma consulta e outros feitos em laboratório de prótese. Quando os dentes não precisam de desgastes excessivos, conservamos ao máximo a estrutura dental, dando uma maior resistência ao dente.
As restaurações possuem vários nomes como INLAYS, ONLAYS e Facetas LAMINADAS, variando conforme o tipo de preparo e a estrutura remanescente.
É importante enender que, às vezes, para conseguirmos o resultado estético esperado pelo nosso paciente, temos que unir várias técnicas odontológicas. Por exemplo, não adianta clarear os dentes se a estrutura que o segura (gengiva e osso) está com problemas, sangrando. Seria como pintar uma parede sem antes passar massa corrida. O RESULTADO FINAL, tão esperado, não será o mesmo.
RESTAURAÇÕES ESTÉTICAS
Atualmente, todos os trabalhos restauradores estéticos se baseiam em uma técnica chamada ADESIVA, criada e desenvolvida a partir de 1960. Esta técnica consiste em UNIR QUIMICAMENTE os trabalhos restauradores ao remanescente dentário, não precisando contar somente com cavidades retentivas para segurarem as restaurações.
Com isto, as restaurações aderem ao dente de tal forma que elas acabam sendo “continuações” do mesmo.
Elas podem ser restaurações simples, feitas com resina fotopolimerizável, porém copiando exatamente a forma, textura, cor, transparência ou opacidade do dente. É preciso ressaltar que UM dente possui vários tons e cores, localizados em cada parte de seu todo, cabendo ao profissional USAR a gama de materiais existentes para cada caso.
PRÓTESES FIXAS
Quando não sobra parte de dente suficiente e temos que refazê-lo através de coroas totais ou próteses fixas, podemos fazê-las sobre uma estrutura de porcelana pura, para casos pequenos, de até três elementos.
Tradicionalmente, esta estrutura é executada em metal, manualmente feita em cera e fundida.
Esta nova possibilidade é feita através de um scanner. Mandamos esta imagem para o exterior, onde, em poucas horas o trabalho é executado e nos é mandado de volta rapidamente, de três a cinco dias, às vezes o mesmo tempo que demoraria se feito na mesma cidade. Em cima deste casquete então, é aplicada a porcelana, conseguindo assim maior naturalidade ao elemento dentário. Não teremos aquela cor acinzentada do metal que fica sob a porcelana, mas continuamos com excelente resistência.
CLAREAMENTO DENTAL
Outra técnica muito difundida é o clareamento dental. Existem dois tipos de clareamentos: interno e externo.
O clareamento interno já existe há mais de 25 anos. Ele consiste em trazer um dente escurecido por tratamento de canal, por exemplo, à sua cor antiga, clara como os outros dentes. São utilizadas em média, duas a quatro consultas para clarear, conforme o grau de escurecimento e o tempo em que este dente está escurecido na boca. O resultado, na maioria das vezes é excelente.
Já o clareamento externo é uma técnica relativamente nova. Começou a ser utilizado no Brasil ao redor de 1988. Consiste em utilizar uma moldeira feita no consultório a partir de modelos da boca do paciente. Nesta moldeira, que o paciente utiliza diariamente em casa ou no seu trabalho, é colocado um gel à base de peróxido de carbamida. Este gel faz com que todos os dentes da arcada sejam clareados ao mesmo tempo. Este processo hoje em dia é conhecido como clareamento caseiro. Existe uma variante desta técnica em que fazemos parte ou a totalidade deste tratamento em consultório, ou ainda, unindo ambas, em casa e no consultório.
PRÓTESES MÓVEIS
Em que elas mudaram nestes últimos 20 anos?
Vamos iniciar com a mais conhecida e a mais temida: a dentadura total.
Hoje, uma dentadura pode ser apoiada sobre implantes.
Ela ficará firme, estável, dando ao nosso paciente conforto, segurança, e, principalmente uma mastigação bastante satisfatória, coisa que nossos avós nem pensavam pudesse existir!
Conforme o número de implantes colocados, podemos eliminar a parte da dentadura que fica no “céu da boca”, no palato, dando também a este paciente a possibilidade de continuar sentindo normalmente o paladar dos alimentos.
Mas vamos supor que, por alguma razão, este nosso paciente não possa fazer implantes. Estará sujeito a utilizar uma dentadura que, a um metro de distância, percebemos que é uma prótese total, uma dentadura? Claro que não. Hoje existem técnicas de caracterização de uma dentadura. Conseguimos imitar exatamente a cor da gengiva e suas rugosidades. Temos um arsenal de formas e cores de dentes, nacionais e importados, que copiam exatamente os dentes remanescentes.
Outra prótese que ninguém aceita são as pontes móveis.
O motivo principal são “aqueles” grampos que ficam expostos quando a pessoa sorri. Estes podem ser substituídos por encaixes de alta precisão.
Como funcionam estes encaixes? Existem dezenas de técnicas que podem ser utilizadas, conforme o número de dentes perdidos. Poder-se-ia escrever não só um parágrafo, mas um livro inteiro, aliás, eles já existem, para os dentistas, mas nossa intenção aqui é apresentar a vocês as possibilidades estéticas clínicas existentes no mercado. Na ponte móvel, podemos garantir que existirá uma situação compatível com cada caso, que dará conforto, segurança e estabilidade a este tipo de trabalho.
As pontes móveis também podem ser apoiadas sobre implantes.
Aliás, em qualquer tipo de prótese podemos utilizá-los.
Como vimos, através de trabalhos mais sofisticados, com uma tecnologia avançada, onde os materiais oferecem maior estabilidade e naturalidade, conseguimos com que nosso paciente tenha uma vida normal, sem ter vergonha, sentindo-se bem com seu sorriso, demonstração maior de uma pessoa feliz.
Capítulo 33 – Eliane Gulko
“Dentes Anteriores Desgastados”
Como recuperar a estatística e a função
“Neste capítulo, apresento uma técnica que venho utilizando, há anos em meu consultório, sobre reposição de tecido dentário sem desgaste dos dentes.”
Os dentistas, há mais de um século, vêm propondo a seus pacientes, através de desgastes dentários, a recolocação dos tecidos perdidos. No início, não tinham como repor a falta de elementos dentários, a não ser através de aparelhos móveis.
Hoje, por meio de reabilitações orais e próteses dentárias fixas, conseguimos um resultado excelente, porém com desgastes, ou seja, precisamos desgastar para repor.
Os implantes, uma técnica maravilhosa, também vieram se unir a este arsenal restaurador.
Vou partilhar com vocês uma técnica que vem sendo utilizada há mais de 15 anos em minha clínica: repomos tecido perdido sem desgastar os dentes, para não chegarmos a situações de perdas extremas, como as citadas acima, onde já existem falta de elementos dentários ou grandes destruições em um único dente ou ainda grandes perdas ósseas.
Devemos utilizar todo o tecido restante, preservando e tentando postergar novas perdas.
Não podemos nos esquecer que o universo ao qual estamos nos referindo, por exemplo, um incisivo central superior ou um canino superior, estamos falando em mais ou menos 12mm.
Os dentes possuem medidas fixas médias. O comprimento médio dos incisivos centrais superiores é de 11mm. Os incisivos laterais superiores possuem 1mm a menos e os caninos de 11 a 12mm.
Os dentes anteriores são responsáveis pela estética, fonética, suporte labial e patamar de fechamento labial, entre outras funções.
Quando a mandíbula se projeta tocando os anteriores inferiores, desoclui os dentes posteriores.
Se os dentes anteriores se tocam, os posteriores não se tocam e vice-versa.
O que isto significa em odontologia?
Significa que, se os dentes anteriores não estiverem desgastados, eles irão proteger os dentes posteriores. A isto chamamos de oclusão mutuamente protegida.
Para obtermos este tipo de oclusão, os dentes devem se desgastar só funcionalmente. Eles se desgastarão pelo tempo e pela idade do paciente. Por definição, oclusão é o relacionamento estático entre as superfícies oclusais dos dentes dos maxilares superior e inferior quando eles se contatam. Estes contatos, se estiverem bem balanceados, irão promover um grau de saúde bucal em que pouco desgaste irá ocorrer através dos anos.
Os dentistas, através de várias técnicas, entre elas a ortodontia, conseguem fazer com que um paciente tenha dentes com uma oclusão relativamente bem balanceada e estável.
Existem, porém, várias pessoas que, por medo, falta de informação, condições financeiras ou outras razões quaisquer acabam não tendo a oportunidade de fazer um tratamento, seja ele preventivo ou conservador.
A técnica:
1. Primeiramente, avalia-se o tipo de mordida e o tipo de relação que os dentes apresentam entre si.
– A partir desta avaliação inicial, determinaremos quais dentes e qual local de cada dente que foram desgastados;
2. Iremos marcar todos os locais para repor tecido perdido, isto é, restaurá-los com resina fotopolimerizável.
Feito isto, devemos checar novamente a oclusão, mas, desta vez, já “imaginando” como esta oclusão irá funcionar com as partes recolocadas.
O relacionamento estático e dinâmico dos seis dentes anteriores do maxilar superior e inferior são chamados de “guia anterior”. Ela é a “freeway” da boca, pois é o caminho que os dentes anteriores irão fazer.
Quando nós mexemos, adicionamos ou diminuímos tecido nos dentes anteriores, estamos modificando este “caminho”.
Antes de começarmos a repor o tecido perdido, temos que definir cor e forma, pois além de estarmos restaurando a função estaremos também melhorando a estética de todos esses dentes anteriores.
A cor e a forma precisam ser alteradas ou as conservaremos?
Este dente deverá ser clareado?
Será um clareamento intrínseco, extrínseco ou apenas através da resina utilizada?
A partir deste momento iremos para a prática.
Iniciaremos colocando resina em locais-chave, em que se deverá repor a dimensão vertical de oclusão perdidas ou locais de sustentação da D.V.O.
O espaço que os dentes ocupam se chama Dimensão Vertical de Oclusão ou D.V.O.
Imagine todos os dentes superiores e inferiores se tocando sem desgastes, se tocando recém erupcionados, com todos os sulcos e cúspides e tudo o que compõe as partes íntegras de um dente. Refaremos as incisais dos dentes, sempre checando a guia anterior.
Para se ter uma boa guia anterior, o paciente deve ter primeiro um comprimento normal dos dentes e superfícies incisais, aquelas que cortam o alimento.
O trespasse ideal entre os dentes superiores em relação aos inferiores acontece quando a borda incisal dos inferiores toca no meio do caminho da parte interna voltada para o palato dos dentes superiores. Figura 1.
O ser humano é altamente adaptável e vai se acostumando e aceitando novas situações e novos padrões de mordida, sem se dar conta de quão prejudicial isto é para si próprio.
E os dentistas com a melhor das intenções, vão perpetuando desgastes que são às vezes de fácil solução.
Além disto, os dentistas se sentem obrigados a fazer um trabalho mais duradouro do que a natureza fez…
Após este tipo de reabilitação o paciente deverá usar uma placa articular para manter estes dentes nestes patamares, sem desgaste.
Os dentes ficarão para sempre sem mais se desgastar só porque decidimos repor os tecidos antes perdidos e os estamos protegendo com uma placa?
É claro que não!
O desgaste irá continuar, porém agora o que se desgastará serão estas restaurações e não mais os dentes do paciente!
Além disto, melhoramos, e muito, a sua estética.
Ou seja, unimos a função à estética.
O paciente deve estar consciente que, dos vários trabalhos que serão executados em sua boca, alguns podem, eventualmente, falhar e terem de ser repostos no primeiro mês ou no primeiro semestre, até ser conseguida a estabilidade no sistema mastigatório.
Segundo Lee citado em Miranda “reabilitar não é apenas construir dentes posteriores em porcelana ou ouro usando-se articuladores totalmente ajustáveis. Reabilitar envolve uma aprendizagem consciente e subconsciente através de impulsos proprioceptivos da posição e morfologia dos dentes quando eles se relacionam entre si, com a mucosa, lábios, bochechas e língua”.
Obras consultadas:
1 – DAWSON, P, Evaluation, Diagnosis and Treatment of Occlusal Problems. St. Louis, c.v.Mosby. 1974.
2 – Miranda, Milton Edson. A importância da guia anterior na reabilitação oral. RGO (Porto Alegre; 37 (5): 376-83, set.-out. 1989. ilustr).
3 – Richard P Harper, / Carl E Misch, Clinical Indications for Altering Vertical Dimension of Occlusion.
4 – Sabek, Mark, / Trévelo, Alain. Alternative Procedure for Reconstructing Anterior Guidance Using an Autopolymerizing Resin Pattern.